Creio que não...
Tudo bem, falar que 95% do que se
cria em uma música é perdido devido (apenas) à compactação inerente aos
arquivos portáteis que utilizamos atualmente é um pouco de exagero.
Mas, Neil Young tem razão: em
termos de informação, perde-se muito com a compactação (e não necessariamente
com a digitalização).
Há algum tempo falei aqui no blog
sobre a volta do LP, o que tem tudo a ver com o assunto do texto de hoje. Vou
deixar o link aqui embaixo:
Acredito que depois de quase dois
anos que escrevi este texto, algumas ideias mudaram, outras se consolidaram.
Continuo acreditando, por
exemplo, que a música de bolso, ou a música compactada através dos famosos
arquivos “mp3” (ou equivalentes), deve ser distribuída livremente. Como Neil
Young citou, essa circulação de arquivos seria o “novo rádio” e permitiria que
novos trabalhos fossem conhecidos pelo público.
Mais do que isso, acredito que a
música portátil tenha seu espaço não apenas para divulgação dos artistas, mas
também para a sua audição, como fazemos atualmente.
Então, para que serviriam as
bolachas, os LPs, os arquivos enormes contendo a “música verdadeira”, como Neil
Young se referiu?
Respondo: é tudo uma questão de
referencial e, principalmente, uma questão circunstancial.
Como uma boa bebida, uma boa
comida ou uma boa companhia, a “música verdadeira”, deve ser degustada, apreciada
com cuidado, precisa ser absorvida com o tempo certo.
Não adianta querer ouvir a “música
verdadeira” no seu aparelho de celular, no seu computador (com aquelas
caixinhas ridículas), no seu carro (com aqueles alto-falantes maiores do que as
rodas), no radinho do seu trabalho.
Primeiro porque nenhum desses aparelhos
possui os meios necessários para se reproduzir uma música com diferentes níveis
de qualidade e se perceber, de fato, a diferença que teríamos entre cada nível.
E, em segundo lugar, porque geralmente quando estamos ouvindo música nesses
aparelhos, estamos prestando atenção em diversas outras coisas e não temos
tempo para perceber a diferença que a “música verdadeira” teria.
Para mim, a “música verdadeira”
precisa de um equipamento de som “verdadeiro”, de um ambiente “verdadeiro”, ou
do contrário voltamos as 5% do que temos hoje. Além disso, a “música verdadeira”
precisa de um momento “verdadeiro” para ser apreciada. Para ouvir no seu
celular, no seu radinho, no seu carro ou no seu computador, os 5% do Neil Young
são mais do que o suficiente. Para fazer barulho no trem ou no ônibus, como
constatamos no dia a dia, 1% dá e sobra.
Mas, para se ouvir na sala da sua
casa, com um equipamento de som de primeira (caixas de som de qualidade) e
tempo de sobra, ai sim, os 95% restantes fazem falta. Você não precisa parar
toda a sua vida para escutar um disco, mas não adianta querer descobrir a falta
que esses 95% fazem xingando o motorista do carro ao lado.
Mas, mais grave do que isso: como
a música hoje está sendo produzida? Será que ela contém os 95% que faltam
quando sai das mesas de gravação?
Acho que não...
Seja de forma analógica ou
digital, as mixagens e masterizações buscam se adequar ao usuário final. Se
antigamente os monitores de estúdios enormes eram a referencia, hoje em dia
qualquer cone de papelão com uma bobina pode ser uma referência.
E aí entra o outro aspecto da
questão, em particular para a música pop: as músicas são produzidas atualmente para
o seu radinho, seu celular, seu mp3 player. A compressão, a equalização, a
dinâmica (ou falta dela) está totalmente voltada para a portabilidade das
músicas.
O pensamento é simples: para que
preciso produzir uma música cheia de detalhes, com minimalismos dinâmicos, se
vou perder isso tudo quando ela for reproduzida?
Essa ideia pode ser estendida à
origem das músicas, ou seja, os artistas: para que precisamos de uma banda com integrantes
de qualidade se a “qualidade” será perdida no caminho?
E poderíamos ir para a outra
ponta da cadeia: para que ouvintes que saibam apreciar a qualidade das músicas
se eles nem sabem o que é música de qualidade?
Bom, acredito que estas questões
caibam melhor em outro texto e podem ser respondidas depois.
E o que vocês acham disso tudo? Deixem aqui
suas opiniões!
Abraços,
Miguel Michalski.
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