MMichalski Music News

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Neil Young está ficando surdo?



Creio que não...

Tudo bem, falar que 95% do que se cria em uma música é perdido devido (apenas) à compactação inerente aos arquivos portáteis que utilizamos atualmente é um pouco de exagero.

Mas, Neil Young tem razão: em termos de informação, perde-se muito com a compactação (e não necessariamente com a digitalização).

Há algum tempo falei aqui no blog sobre a volta do LP, o que tem tudo a ver com o assunto do texto de hoje. Vou deixar o link aqui embaixo:
 

Acredito que depois de quase dois anos que escrevi este texto, algumas ideias mudaram, outras se consolidaram.

Continuo acreditando, por exemplo, que a música de bolso, ou a música compactada através dos famosos arquivos “mp3” (ou equivalentes), deve ser distribuída livremente. Como Neil Young citou, essa circulação de arquivos seria o “novo rádio” e permitiria que novos trabalhos fossem conhecidos pelo público.

Mais do que isso, acredito que a música portátil tenha seu espaço não apenas para divulgação dos artistas, mas também para a sua audição, como fazemos atualmente.

Então, para que serviriam as bolachas, os LPs, os arquivos enormes contendo a “música verdadeira”, como Neil Young se referiu?

Respondo: é tudo uma questão de referencial e, principalmente, uma questão circunstancial.

Como uma boa bebida, uma boa comida ou uma boa companhia, a “música verdadeira”, deve ser degustada, apreciada com cuidado, precisa ser absorvida com o tempo certo.

Não adianta querer ouvir a “música verdadeira” no seu aparelho de celular, no seu computador (com aquelas caixinhas ridículas), no seu carro (com aqueles alto-falantes maiores do que as rodas), no radinho do seu trabalho.

Primeiro porque nenhum desses aparelhos possui os meios necessários para se reproduzir uma música com diferentes níveis de qualidade e se perceber, de fato, a diferença que teríamos entre cada nível. E, em segundo lugar, porque geralmente quando estamos ouvindo música nesses aparelhos, estamos prestando atenção em diversas outras coisas e não temos tempo para perceber a diferença que a “música verdadeira” teria.

Para mim, a “música verdadeira” precisa de um equipamento de som “verdadeiro”, de um ambiente “verdadeiro”, ou do contrário voltamos as 5% do que temos hoje. Além disso, a “música verdadeira” precisa de um momento “verdadeiro” para ser apreciada. Para ouvir no seu celular, no seu radinho, no seu carro ou no seu computador, os 5% do Neil Young são mais do que o suficiente. Para fazer barulho no trem ou no ônibus, como constatamos no dia a dia, 1% dá e sobra.

Mas, para se ouvir na sala da sua casa, com um equipamento de som de primeira (caixas de som de qualidade) e tempo de sobra, ai sim, os 95% restantes fazem falta. Você não precisa parar toda a sua vida para escutar um disco, mas não adianta querer descobrir a falta que esses 95% fazem xingando o motorista do carro ao lado.

Mas, mais grave do que isso: como a música hoje está sendo produzida? Será que ela contém os 95% que faltam quando sai das mesas de gravação? 

Acho que não...

Seja de forma analógica ou digital, as mixagens e masterizações buscam se adequar ao usuário final. Se antigamente os monitores de estúdios enormes eram a referencia, hoje em dia qualquer cone de papelão com uma bobina pode ser uma referência.

E aí entra o outro aspecto da questão, em particular para a música pop: as músicas são produzidas atualmente para o seu radinho, seu celular, seu mp3 player. A compressão, a equalização, a dinâmica (ou falta dela) está totalmente voltada para a portabilidade das músicas. 

O pensamento é simples: para que preciso produzir uma música cheia de detalhes, com minimalismos dinâmicos, se vou perder isso tudo quando ela for reproduzida?

Essa ideia pode ser estendida à origem das músicas, ou seja, os artistas: para que precisamos de uma banda com integrantes de qualidade se a “qualidade” será perdida no caminho? 

E poderíamos ir para a outra ponta da cadeia: para que ouvintes que saibam apreciar a qualidade das músicas se eles nem sabem o que é música de qualidade?

Bom, acredito que estas questões caibam melhor em outro texto e podem ser respondidas depois. 

E o que vocês acham disso tudo? Deixem aqui suas opiniões!

Abraços,

Miguel Michalski.


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