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quinta-feira, 17 de abril de 2014

"Brasil: Ame-o ou deixe-o!" ou "Vale a pena abandonar o Brasil?"


Poucas são as vezes que sai por ai dando minha opinião, ainda mais sobre um assunto tão delicado.

Porém, quando uma amiga compartilhou um texto do Gustavo Cerbasi no Facebook e deu sua opinião, tive vontade de contribuir com algumas ideias também. Porém, o que seria uma simples frase, virou o texto que apresento a seguir.

Quem quiser ler o texto do Cerbasi, aqui está o link:

http://www.maisdinheiro.com.br/artigos/6/109/vale-a-pena-abandonar-o-brasil-

Posso dizer que nos últimos dez anos fui um turista quase que constante pela Europa e Américas. Pude observar, mesmo que do ponto de vista de um turista, as mudanças impostas pela Globalização, crises econômicas e como é o padrão de comportamento de diversos povos pelo mundo. Se não me engano, já estive em dez países diferentes, fora o Brasil.

Também tive a oportunidade de viajar muito pelo Brasil, a trabalho. E quando falo muito, considero que já estive em 17 capitais, mais o DF, e diversas cidades do interior, em todas as regiões do Brasil. Já perdi a conta de quantas, mas acho que posso dizer que tenho uma razoável amostragem do que é o povo brasileiro.

Além disso, morei por três meses na Itália. Foi um período curto, mas já não era um turista. Trabalhava, pagava as contas, fazia compras... Faz tempo, 10 anos. Foi minha segunda experiência internacional, mas foi uma das mais marcantes. Certa vez, escutei de um italiano que foi convidado para trabalhar nos Estados Unidos que "se você tem uma oportunidade de crescer e se desenvolver no seu país, não se mude. Fique na sua terra. Porém, para quem já esgotou todas as possibilidades e não consegue ver seu crescimento pessoal no seu país, a mudança pode ser positiva." - e ele continua na Itália até hoje.

Também tenho alguns amigos que tiveram suas experiências morando pelo mundo afora. Pude aprender com eles também, compartilhando nossas ideias.

Fora isso, sempre procuro conversar um pouco com os "locais", estrangeiros residentes ou nativos, para aprender um pouco mais sobre a sua cultura e seus hábitos. Como bem diz uma prima minha, faço amigos facilmente.

Durante todos esses anos, aprendi que independente de credo, raça, classe social e capacidade intelectual, um estrangeiro sempre será um estrangeiro e que mudar de país não é fácil. É uma grande mudança, e grandes mudanças, em geral, não são fáceis. 

A forma como cada um lida com o fato de ser um estrangeiro, de estar longe da família e dos amigos, de ter que se habituar a costumes e regras sociais, é muito particular. Varia de pessoa para pessoa.

Também vai depender das atividades que serão exercidas na nova terra, o quão cosmopolita é a cidade em que foi fixada a nova residência e a dificuldade de se aprender a língua local.

Tem gente que se adapta com facilidade, tem gente que não. Tem gente que consegue se dar bem e não volta, tem gente que não suporta um mês longe de casa. E tem aqueles que não seguem nenhuma dessas regras.

Fora essas questões pessoais, devemos levar em conta todas as questões relacionadas à documentação e legalização de um estrangeiro em um novo país. Sim, porque estou considerando que a mudança deve ser feita de forma correta. E para fazer as coisas direito, fica ainda mais difícil.

Nesse aspecto, é interessante saber que o Brasil é um dos países mais fáceis para um estrangeiro conseguir a documentação para fixar residência e trabalhar.

Bom, neste ponto você deve estar pensando: "então, na opinião do Miguel, sair do Brasil para morar e trabalhar em outro país não vale a pena", certo?

Errado.

Se eu pudesse e tivesse para onde ir de forma legal e correta, já tinha ido embora. Com prazer!

Para mim, o slogan utilizado pela publicidade do Regime Militar, principalmente entre os anos de 1969 e 1974 se não estou enganado, nunca fez tanto sentido. Isso porque, tem que amar muito para não ver a grande pocilga em que nos encontramos. E neste caso, o amor é cego, surdo e burro.

Não precisamos nos comparar com nenhum outro país para nos darmos conta que algo está muito errado. Basta parar e pensar.  Até porque, o mundo fora do Brasil não é uma maravilha. Muitas cidades são sujas, superpopulosas, nem todas as pessoas são educadas. Quem viaja achando que via encontrar um mar de rosas no exterior, se decepciona. A maior diferença, no entanto, é que as coisas que deveriam funcionar, aparentemente, funcionam. E isso já é muito melhor.

Só que "parar e pensar" já é um grande problema, pois aparentemente esse dom já foi perdido pela maioria da população. As pessoas preferem ser lideradas a liderar, ser mandadas do que mandar, seguir o que falam ao invés de pensar. Somos gado seguindo um caminho que ninguém sabe onde vai dar, nem porque esse é o caminho, mas somos felizes assim.

E não importa o motivo. Seja uma questão política, antropológica, histórica ou intelectual, o nosso sistema, nosso país, não funciona como nação e, para mim, não funcionará tão cedo.

Não é uma simples questão de estar desistido, abandonar o dever cívico ou a pátria amada ou mesmo optar pelo caminho mais fácil. Muito menos a motivação seria falta de interesse em lutar ou dar o exemplo. Mas, quem procura fazer as coisas da forma correta, virou minoria e é marginalizado. O mundo é dos espertos, e otário é aquele que não quer se dar bem a custa dos outros. Não temos mais "massa crítica" de pessoas decentes que consigam fazer diferença.

Então, simplesmente não me vem uma ideia melhor. Se me perguntarem o que eu acho que deveria ser feito para mudar e arrumar o Brasil, eu diria: "começar tudo novamente".

O pior: todo poço tem seu fundo, mas sinceramente eu acho que ainda não chegamos lá.

Hoje, sinto-me como um estrangeiro em meu próprio país. E tanto meu lado emocional quanto meu lado racional sabem disso. Portanto, não mais existe uma balança que tenta se equilibrar. Já pendeu para um lado só, faz tempo.

Embora eu mesmo tenha usado no título desse post, acho a palavra "abandonar" muito forte. Por tudo isso, Brasil, se eu puder irei te deixar sozinho por uns tempos.

Abraços,

Miguel Michalski.