MMichalski Music News

terça-feira, 23 de abril de 2013

Os Jumentos do Lula



Olá leitor!

Estou de volta. Pelo menos por hoje.

E escolhi um tema que, na verdade, não tem muito a ver com música ou arte. Talvez tenha a ver com tecnologia, de alguma forma. Mas, com certeza daria um bom enredo para um filme.

Quem me conhece pessoalmente já deve ter ouvido a expressão "os jumentos do Lula" quando me refiro aos jegues (ou jumentos, dependendo da região) que vagam pelos estados nordestinos.

Sim, vagam, livremente. Pelas estradas, pelo cerrado, pela caatinga.

O fenômeno chegou a ser manchete em alguns meios de comunicação no ano passado, quando foi anunciado que a China iria passar a importar os jumentos nordestinos, vivos e abatidos, para consumo e, principalmente, para a indústria de cosméticos.
 
Quando essa notícia veio à tona, teve político, líder de ONG, nordestino e até veterinário se pronunciando. Depois, como quase tudo no Brasil, sumiu de cartaz e hoje não sei como está a exportação de jumentos do nordeste para a China.

Porém, sei que eles continuam vagando pelos estados nordestinos. Sei por que vi. E é muito interessante quando constatamos com os próprios olhos um fenômeno social, econômico e animal deste tipo.

A história é simples: com a economia equilibrada herdada pelo governo Lula de seus antecessores, juntamente com a preocupação social de nosso estimado ex-presidente barbudo, a população mais carente passou a ter acesso a produtos industrializados de maior valor. Bens de consumo, como eletrodomésticos e motocicletas.

E, neste caso, eis que a vida dos jegues é alterada. Sim, porque embora um jegue não se importe nem um pouco se seu dono conseguiu comprar uma geladeira, a partir do momento que a motocicleta passou a ser parcelada em prestações a perder de vista, ele, o jegue, ficou obsoleto.

A motocicleta dá status, não defeca pela rua, tem manutenção barata, consome pouco e não dá cria. E todos podem ter a sua, adultos, velhos e crianças. E ninguém vai ganhar uma mordida ou um coice por passar perto de uma motocicleta de forma desprevenida.

Então, porque o agora endividado sertanejo manteria um jegue se tem sua moto?

E, de fato, pelas cidades nordestinas, inclusive no interior, bandos de motociclistas percorrem o recém-colocado asfalto (graças ao PAC) das estradas enquanto seus jegues e jumentos ficam pela beirada, em busca de uma sombra e uma moita de capim.

Sim, porque o jegue quer que o mundo acabe em verde para ele morrer de barriga cheia.

Mas o PAC não previu que o jegue não sabe que deve olhar para os dois lados antes de atravessar uma estrada, ou permanecer no acostamento, que quase nunca existe (também não foi previsto no PAC que estradas precisam de acostamento - ou tem asfalto novo e não tem acostamento ou tem asfalto velho, cheio de buraco, e um canto para parar), com seu pisca alerta ligado.

Então, a consequência direta deste cenário são acidentes e mais acidentes nas estradas nordestinas onde as maiores vítimas são os jumentos. E os maiores beneficiados, os urubus e abutres. Bom, agora os chineses, que podem se deliciar com mais essa iguaria made in Brazil.

Recentemente estive no Piauí e tirei essa foto na beira de uma BR. Só para registrar.



O curioso é que, embora o jegue tenha sido substituído pela moto, a forma de se usar o novo meio de transporte não é diferente da anterior: sem capacete, sem licença, sem placa e sem documentação. E claro, sem número definido de passageiros. Famílias inteiras percorrem as ruas do interior do Nordeste em uma única motocicleta, sem cuidados básicos e sem a menor noção das regras de transito vigentes.

Afinal, aquilo é apenas um jegue com rodas. E isso o PAC também não previu.

Abraços,

Miguel Michalski.