Olá leitor!
Estou de volta. Pelo menos por
hoje.
E escolhi um tema que, na
verdade, não tem muito a ver com música ou arte. Talvez tenha a ver com
tecnologia, de alguma forma. Mas, com certeza daria um bom enredo para um
filme.
Quem me conhece pessoalmente já
deve ter ouvido a expressão "os jumentos do Lula" quando me refiro
aos jegues (ou jumentos, dependendo da região) que vagam pelos estados
nordestinos.
Sim, vagam, livremente. Pelas
estradas, pelo cerrado, pela caatinga.
O fenômeno chegou a ser manchete
em alguns meios de comunicação no ano passado, quando foi anunciado que a China
iria passar a importar os jumentos nordestinos, vivos e abatidos, para consumo
e, principalmente, para a indústria de cosméticos.
Quando essa notícia veio à tona,
teve político, líder de ONG, nordestino e até veterinário se pronunciando.
Depois, como quase tudo no Brasil, sumiu de cartaz e hoje não sei como está a
exportação de jumentos do nordeste para a China.
Porém, sei que eles continuam
vagando pelos estados nordestinos. Sei por que vi. E é muito interessante
quando constatamos com os próprios olhos um fenômeno social, econômico e animal deste
tipo.
A história é simples: com a
economia equilibrada herdada pelo governo Lula de seus antecessores, juntamente
com a preocupação social de nosso estimado ex-presidente barbudo, a população
mais carente passou a ter acesso a produtos industrializados de maior valor.
Bens de consumo, como eletrodomésticos e motocicletas.
E, neste caso, eis que a vida dos
jegues é alterada. Sim, porque embora um jegue não se importe nem um pouco se
seu dono conseguiu comprar uma geladeira, a partir do momento que a motocicleta
passou a ser parcelada em prestações a perder de vista, ele, o jegue, ficou
obsoleto.
A motocicleta dá status, não defeca
pela rua, tem manutenção barata, consome pouco e não dá cria. E todos podem ter
a sua, adultos, velhos e crianças. E ninguém vai ganhar uma mordida ou um coice
por passar perto de uma motocicleta de forma desprevenida.
Então, porque o agora endividado
sertanejo manteria um jegue se tem sua moto?
E, de fato, pelas cidades
nordestinas, inclusive no interior, bandos de motociclistas percorrem o recém-colocado
asfalto (graças ao PAC) das estradas enquanto seus jegues e jumentos ficam pela
beirada, em busca de uma sombra e uma moita de capim.
Sim, porque o jegue quer que o
mundo acabe em verde para ele morrer de barriga cheia.
Mas o PAC não previu que o jegue
não sabe que deve olhar para os dois lados antes de atravessar uma estrada, ou
permanecer no acostamento, que quase nunca existe (também não foi previsto no PAC que
estradas precisam de acostamento - ou tem asfalto novo e não tem acostamento ou
tem asfalto velho, cheio de buraco, e um canto para parar), com seu pisca alerta ligado.
Então, a consequência direta
deste cenário são acidentes e mais acidentes nas estradas nordestinas onde as
maiores vítimas são os jumentos. E os maiores beneficiados, os urubus e abutres.
Bom, agora os chineses, que podem se deliciar com mais essa iguaria made in Brazil.
Recentemente estive no Piauí e
tirei essa foto na beira de uma BR. Só para registrar.
O curioso é que, embora o jegue
tenha sido substituído pela moto, a forma de se usar o novo meio de transporte não é diferente da anterior: sem capacete, sem licença, sem placa e sem
documentação. E claro, sem número definido de passageiros. Famílias inteiras percorrem
as ruas do interior do Nordeste em uma única motocicleta, sem cuidados básicos e sem a menor noção
das regras de transito vigentes.
Afinal, aquilo é apenas um jegue com rodas. E isso o PAC também não previu.
Abraços,
Miguel Michalski.