MMichalski Music News

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Seria esse o fundo do poço?


Durante essa semana estive mais ausente das redes sociais do que o normal, devido ao meu trabalho, mas nem por isso deixei de notar algumas notícias que me levam a pensar: estaria a música popular brasileira no fundo do poço? Teríamos finalmente alcançado o que podemos fazer de pior?

A música popular brasileira a qual me refiro não é exatamente a MPB autêntica, estilo musical que começou a surgir na década de 60 com a Bossa Nova e as músicas folclóricas e de raízes brasileiras, e que com o tempo se fundiu a outros estilos, como o rock, o reggae, o samba, dando origem a uma série de estilos musicais, como o samba-rock e o samba-reggae, por exemplo. 

Mas, ao mesmo tempo, o que circula na boca do povo hoje deve ser considerado a “nova música popular brasileira”.  Ou seja, o que é pop em território nacional e foi “fabricado” por aqui, está no bolo. 

E as comparações são inevitáveis...

Bom, eis algumas das notícias as quais me referi:
  • “Sambista Dicró morre em Magé, no Rio, vítima de infarto”;
  • “Michel Teló é comparado a Vinícius de Moraes e Tom Jobim”; 
  • “Valesca Popozuda e Mr. Catra lançam pagode pornográfico”.
Aparentemente, nada tem haver com nada. Mas apenas aparentemente...

Dicró foi um dos “três malandros” do samba carioca. Grande sambista, cantor e compositor, teve com os sambas satíricos, em especial aqueles que falavam mal da sogra, seus maiores sucessos.

Sua música tinha graça, humor, e, embora possa ser considerado politicamente incorreto nos padrões atuais, o seu politicamente correto é tão bem feito que pode ser perdoado até pela própria sogra.

Descanse em paz Dicró!

Sem querer comparar ou medir a grandiosidade de cada um, Dicró, Vinícius e Tom (citados nas notícias) são verdadeiros representantes da música popular brasileira. Cada um em sua zona de conforto, cada um com sua realidade social, mas livres de qualquer preconceito nos dias atuais. São mestres, ninguém pode negar.

O Miami Herald é um jornalzinho americano que circula por alguns cantos da Flórida, Carie e América Latina... Até aí necas... Mas me vem o Miami Herald publicar uma matéria em que simplesmente se coloca o seguinte: “Indeed, Ai Se Eu Te Pego may be the most popular song to come out of Brazil since The Girl From Ipanema”. 

Ou seja, “Ai se eu te pego” é nosso segundo maior produto exportação (o primeiro são jogadores de futebol)...

Descanse em paz Tom, descanse em paz Vinicius...

E a derradeira!

Valesca Popozuda e Mr.Catra são uma dupla de funkeiros, cariocas, chegados a uma polêmica. E talvez isso seja o que eu tenho de melhor a dizer sobre eles...

A nova polêmica da dupla é uma música a qual não tenho como classificar, já que não tenho nada abaixo de “lixo” na minha escala... 

Valesca publicou em seu twitter esta semana que “estava gerando polêmica porque havia largado o funk para cantar pagode sem palavrão”. E publicou um link para tal música... 

Bom, palavrão não falta. E, quando uma música chega a ter a tag “proibida para menores de 18 anos”, ela tem algo mais do que palavrão...  Eu realmente pensei, quando escutei a tal música (sim, eu escutei...): "Como alguém tem coragem de cantar isso?" e também: "Como alguém tem coragem de gravar isso?" e pior: "Como alguém tem coragem de tornar isso público?".

Sei que acabo fazendo propaganda ao escrever sobre essa música aqui... Ainda mais quando o “fale mal, mas fale de mim” virar estratégia de marketing totalmente válida nas redes sociais e blogueira com mais desafetos do que palavras em seu blog virou atração de programa de TV... Mas, a tal música e as notícias vinculadas a mesma não poderiam passar despercebidas.

Vocês irão escutar essa música, querendo ou não. Podem estar certos disso...

É bom esclarecer que não tenho nada contra um MC, Michel Teló ou uma popozuda. Muito menos algo contra a tal blogueira. E não são eles a origem da ferida, enorme, presente em nossa sociedade que quero cutucar.

Também não sou contra músicas de duplo sentido ou que falem de temas picantes. Estou ouvindo enquanto escrevo esse post “Sexo”, disco de 1987 do grande Ultrage a Rigor. E do funk ao rock, passando pelo samba e o pagode, sempre teremos alguém querendo abordar um tema mais provocante. 

Não sou contra o funk carioca, que nos bons tempos foi sem dúvida uma das maiores e melhores formas de expressão do povo carioca oriundo dos guetos e favelas.

Não sou contra o sertanejo, música caipira ou mesmo o sertanejo universitário. A música sertaneja vem da realidade do homem do campo e canta um Brasil que pouca gente escuta.

Na verdade, as diversas formas de expressão que temos na forma de música são verdadeiros reflexos do povo que as alimenta, produz e consome.

Se você é um pagodeiro que gosta de uma manguaça, vai falar sobre bebida em suas músicas. Se você é um vaqueiro que fica dias e dias sem ver a mulher amada, vai cantar músicas sobre “dor de corno”. Se você é um roqueiro satânico que curte um pretinho básico, vai cantar sobre as sombras. Se você é um morador de favela, oprimido por sua condição social e reprimido pela violência, você vai cantar sobre tiroteio, polícia e drogas.

Entenderam a lógica, não foi.

E sobre isso, não vejo qualquer problema...

Afinal, em todos os casos existe um ímpeto interior em cada exemplo de indivíduo citado que o leva a se expressar de alguma forma.

Quem ouve tem a chance de escolher se concorda ou não, se gosta ou não, se vai consumir ou não as ideias que aquele indivíduo apresenta. Vai sentir, ou pensar, que a sua realidade pessoal pode ser refletida de alguma forma na realidade daquele individuo que se expressou com a música. 

O controle de qualidade, o bom senso e o bom gosto serão determinados democraticamente...

A arte produzida por um ser humano reflete o que ele é, o que ele pensa. Quando a expressão artística de uma pessoa se torna um produto consumido pela massa, pode se dizer que a sociedade vê sua realidade e seus valores refletidos nessa expressão.

Porém, o que mais vejo hoje, pois notícias como as que apresentei aqui não cansam de aparecer, assim como músicas cada vez piores, é um povo consumindo um grande e total vazio de ideias, de sentido, de significado. Um grande nada...

A massa se move em direção ao nada...
 
A sociedade está consumindo o nada. A sociedade vê um grande nada em sua realidade e seus valores.

Hoje, mais do que nunca, acredito que a sociedade contemporânea tenha não mais valores distorcidos, ou ideias distorcidas, ou princípios distorcidos... Temos um grande nada de valores, ideias ou princípios. E a nossa música popular está aí para mostrar isso...

Talvez pela facilidade em se propagar, a música popular seja um dos melhores termômetros sociais disponíveis...

E hoje, temos “orgulho” em ver que nosso maior produto popular de exportação é “Ai se eu te pego” e que a realidade de cidades como o Rio de Janeiro se baseia em bundas e outros órgãos relacionados ao sexo. 

Sabem à conclusão que eu cheguei? Dicró preferiu enfartar a ouviu o pagode da dupla funkeira ou ler o Miami Herald... 

Abraços,

Miguel Michalski.

PS: Não quis deixar links neste post... Me recusei... Googlem e você terão o que procuram...

Um comentário: